
Ano passado Animais Fantásticos e Onde Habitam teve sua grande estréia e voltar para o mundo bruxo foi, desculpa o trocadilho, extremamente mágico. Nós crescemos com com a saga e ficamos, como muitos outros fãs, sem um pedacinho feliz do mundo quando a série acabou. Mas o tempo passou e uma nova história foi escrita para o cinema (porque vamos fingir que Cursed Child não existe) e finalmente pudemos voltar para esse mundo incrível que tanto amamos.
O filme foi realmente tudo o que esperávamos e muito mais. Mas desde aquela época há algo — ou melhor, alguém — que nos incomoda. A escolha do Johnny Depp para dar vida ao vilão Grindewald. Primeiro escolheram um ator que há anos repete o mesmo personagem caricato e que em poucos minutos na tela já entregou: estamos vendo mais uma faceta do Jack Sparrow. Segundo e ainda mais importante: depois da denúncia de violência doméstica feita por sua esposa, Amber Heard, o estúdio e a própria J.K. optaram por mantê-lo no papel.
Claro, o ator foi escolhido muito antes da denúncia se tornar pública e não causou o impacto na mídia como os relatos atuais envolvendo atores e diretores estão causando. Talvez se o caso tivesse acontecido este ano, as coisas fossem diferentes. Mas o que mais incomoda é o fato da autora, que também está envolvida na produção do filme, negar a própria violência sofrida por um ex-companheiro mantendo o ator no elenco. Toda a história contada por Rowling sobre os abusos que passou perdem a credibilidade e torna o seu discurso fraco ao apoiar Johnny Depp. A mulher que sofreu nas mãos de um marido abusivo em nenhum segundo se pronunciou sobre o caso, mesmo tendo o poder de vetar a participação do Jack Sparrow, digo, de Depp na saga.
J.K. Rowling escreveu sete livros em que o abuso aparece constantemente como pano de fundo e permite que um homem que praticou atos de violência contra sua esposa continue no elenco. Além disso o coloca como parte central do segundo filme e seu personagem ganha ainda mais destaque por ter o nome no título. A história se torna ainda mais frustrante quando percebemos o rumo que o caso do ator Kevin Spacey tomou. Ele foi removido e substituído de um filme que havia terminado suas gravações e estava a dois meses do lançamento por conta de suas atitudes criminosas na vida pessoal.
A autora que sempre se pronunciou como ativista, defensora de causas, podia ter apoiado algo semelhante, assim como a própria Warner também poderia ter tomado alguma atitude. A cada nova denúncia contra os abusos em Hollywood e as medidas que estão sendo tomadas a respeito, faz com que essa vista grossa feita pela Warner/Rowling fique pior. É quase um descaso com a opinião pública. E agora nós temos um filme exaltando um homem como Johnny Depp. O título chega a ser um deboche: Fantastic Beasts, The Crimes of Grindelwald.
J.K. Rowling se tornou o grande ídolo da infância de muita gente e o fato dela ter criado o projeto Lumus e se entregado com tanta vontade ao ativismo era algo que nós admirávamos muito. Mas também passamos a conhecer um outro lado da autora: o lado que ignora mulheres que sofrem abusos nas mãos de homens (assim como ela também sofreu), o lado mercenário que prefere manter um ator “renomado” ao invés de apoiar uma vítima de violência, o lado que ignora um número grande de fãs pedindo para que alguma providência seja tomada… Diversas atitudes da autora mostram um lado machista que preferíamos nunca ter percebido.
A importância de Harry Potter e o mundo bruxo jamais será apagada ou diminuída, mas certamente nossa admiração pela pessoa que o criou como ser-humano diminuiu consideravelmente nestes últimos anos, o que nos deixa muito chateadas. É triste se decepcionar com uma pessoa que costumávamos idolatrar, mas ainda torcemos para que ela — e claro, a Warner — tomem uma atitude em relação ao Johnny Depp, apesar de sabermos que as chances são praticamente nulas.
Fiquei super triste pela escolha. Li em algum lugar que ela não estava presente no dia da escolha e que na época que ele foi selecionado não tinha acontecido todo o caso que conhecemos. Mas não justifica, né? Tantos atores… =/
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Oi Clayci! ❤ Pois é, não justifica mesmo 😦 Até porque a história dele aconteceu e o filme ainda nem tinha saído, então dava para terem feito algo na época ou até mesmo em relação a ele continuar no papel…:/
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